Abundância: O futuro é melhor do que você imagina, de Peter H. Diamandis e Steven Kotler.

Se alguém dissesse que nós estamos vivendo uma era de abundância, em que todos os grandes problemas da humanidade estão muito próximos de serem resolvidos, você acreditaria?

Eu não. Ao menos não até ler o livro Abundância: O futuro é melhor do que você imagina, de Peter H. Diamandis e Steven Kotler.

Nele, os autores afirmam que a humanidade está adentrando um período de transformação radical em que a tecnologia tem o potencial de elevar substancialmente os padrões de vida básicos de todos os habitantes do planeta. Por volta do ano 2040, seremos capazes de fornecer bens e serviços antes reservados para uma minoria rica, a toda e qualquer pessoa que precisar deles. Ou que os desejar.

Eu sei, é difícil acreditar. Especialmente quando tudo o que vemos na imprensa são notícias sobre doenças, corrupção, guerra, intolerância.

Mas há dois fatores a se considerar.

O primeiro é que a imprensa, historicamente, veicula muito mais notícias negativas do que positivas. Durante a faculdade de jornalismo, cansei de escutar o bordão que diz que “desgraça vende jornal”.

O segundo fator, amplamente explorado no livro Abundância, é que nós seres humanos pensamos sempre linearmente, enquanto a tecnologia evolui exponencialmente.

E, vistos pelas lentes da tecnologia, poucos recursos são realmente escassos. A maioria deles é apenas inacessível.

Neste exato momento, é muito provável que você, leitor, tenha em mãos um smartphone com mais recursos de tecnologia do que o Presidente George Bush tinha meros 25 anos atrás, comandando a maior nação do planeta ao fim da Guerra Fria.

E é com essa abundância tecnológica que Diamandis e Kotler enumeram o que devemos ter pela frente nas próximas décadas: nove bilhões de pessoas com água limpa, alimentos nutritivos, moradia acessível, educação personalizada, assistência médica de primeira e energia abundante e não poluente.

Abundância é o nosso futuro

Henry Ford foi o primeiro empresário do mundo a aplicar a ideia da linha de montagem em série e assim criar uma indústria que revolucionou a forma de produzir bens no mundo.

Falecendo em 1947 como um dos homens mais ricos do planeta, Ford tinha menos acesso a recursos como eletricidade, água encanada, refrigerados e telecomunicações do que 99% dos americanos que hoje vivem abaixo da linha da pobreza.

Em outras palavras, quase todos os pobres dos EUA hoje têm acesso a mais recursos do que o homem mais rico do país tinha há cerca de 50 anos.

Perceba que os autores não estão falando de abundância no sentido de carros luxuosos, iates, mansões. Diamandis é enfático ao afirmar que abundância não significa proporcionar a todos uma vida de luxo. Pelo contrário, significa proporcionar a todos uma vida de possibilidades.

Essa vida de possibilidades, para os autores, passa primeiro pela sobrevivência básica (água, comida e moradia), depois por três áreas primordiais:

  • Energia
  • Educação
  • Informação/Comunicação

Para os autores, essas três áras combinadas rendem dividendos duplos. No curto prazo, aumentam os padrões de qualidade de vida. No longo prazo, abrem caminho para dois dos maiores criadores de abundância da história: especialização e intercâmbio.

“A energia fornece os meios de realizar trabalho. A educação permite aos trabalhadores se especializarem. A abundância de informação/comunicação, além de promover a especialização (expandindo as oportunidades educacionais), permite aos especialistas o intercâmbio de especialidades, criando assim o que o economista Friedrich Hayek denominou catalaxia: a possibilidade de expansão ilimitada gerada pela divisão de trabalho”, escreve Diamandis.

Por fim, no topo da pirâmide, estão outras duas áreas fundamentais: saúde e liberdade.

O futuro já está acontecendo

Sim, muitos de nós usa a tecnologia para finalidades rasas: escrever textão no Facebook, curtir uma foto bonita no Instagram, acompanhar as fofocas ou resultados esportivos na Globo.com.

Porém, já temos em nossas mãos tecnologia suficiente para fazer qualquer escritor de ficção científica de poucas décadas atrás ficar de queixo caído. O livro Abundância enumera algumas dessas inovações que já estão acontecendo.

Inovações como o projeto Lab-on-a-Chip, um dispositivo do tamanho de um celular que permite que médicos, enfermeiras ou mesmo aos próprios pacientes extrair uma amostra de líquido corporal (como urina, saliva ou uma simples gota de sangue) e realizar dezenas, se não centenas, de diagnósticos no local e em uma questão de minutos.

Ou como a internet das coisas, que prevê conectividade para trilhões de dispositivos, deste termômetros até interruptores de luz, todos interligados por meio de uma rede de sensores, cada um com seu próprio endereço IP, acessível pela internet. Você vai pode usar o Google para achar as chaves de casa.

Ou como os automóveis inteligentes do Google ou da Tesla, que não precisam de motorista e podem revolucionar o sistema de transportes em pouco tempo, já que ninguém precisará mais deixar um carro parado na garagem.

Ou como a produção de energia elétrica a partir de algas geneticamente modificadas, 30 vezes mais eficientes do que os biocombustíveis convencionais.

Exemplos como esses são dados aos montes ao longo das páginas do livro, explodindo a cabeça do leitor para as possibilidades diante de todos.

Otimismo é a palavra para o futuro

Ao ler Abundância, você fica se perguntando o porquê de termos uma visão tão pessimista das coisas.

Os autores investigam essa questão, lembrando que os seres humanos, como quaisquer animais, evoluiu para sobreviver. Ou seja, precisamos estar bastante atentos quanto ao perigo em nossa volta.

Estatisticamente, o mundo industrializado nunca esteve tão seguro. Muitos de nós estamos vivendo mais tempo e com menos contratempos. Mesmo assim, vivemos em cenários do pior caso possível. Nos últimos cem anos, os norte-americanos reduziram drasticamente seu risco em praticamente todas as áreas da vida, resultando numa expectativa de vida, em 2000, 60% maior do que em 1900. Os antibióticos reduziram as chances de morrer de infecções. Medidas de saúde pública determinam padrões para a água potável e o ar respirável. Nosso lixo é removido rapidamente. Vivemos vidas com temperatura e doenças controladas. No entanto, preocupamo-nos mais do que em qualquer outra época. Os perigos naturais não estão mais aí, mas os mecanismos de resposta continuam operando, e agora estão ativados grande parte do tempo. Nós implodimos, transformando nosso mecanismo de medo adaptativo em uma reação de pânico desajustado.

Diamandis e Kotler concluem que, para essa mudança de paradigma ser acelerada e atingir cada vez mais pessoas, são necessárias drásticas mudanças no sistema educacional.

Pensando nisso, Peter Diamandis uniu-se ao gênio Ray Kurzweil e fundou em 2008 a Singularity University, uma universidade voltada para a aplicação de tecnologias exponenciais na resolução de grandes problemas globais.

A universidade, que acabou virando praticamente um anexo do Google, estuda sobretudo biotecnologia e bioinformática, sistemas computacionais, redes e sensores, inteligência artificial, robótica, fabricação digital, medicina, e nanotecnologia.

Dá para ficar bastante otimista com o futuro mostrado ao longo das páginas de Abundância.

Atualmente, as pessoas gastam nos países desenvolvidos cerca de 75% dos seus salários para bancar necessidades básicas (água, alimento, roupa, abrigo, assistência médica e educação). Esse percentual sobe para 90% nos países não desenvolvidos.

O que o livro mostra é que a tecnologia está desmaterializando e barateando quase todas esses gastos, em um crescimento exponencial difícil de ser totalmente compreendido pelo nosso pensamento linear.

Um esforço de compreensão, no entanto, é o mínimo que podemos fazer não somente para aproveitar o quanto antes tais benesses, mas também para ajudar a concretizá-las. E o primeiro passo para isso é ler Abundância: O futuro é melhor do que você imagina.

Escrito por
Walmar Andrade
Walmar Andrade