O que fazer depois de assistir ao documentário The Social Dilemma?

The Social Dilemma

The Social Dilemma (O Dilema das Redes), documentário da Netflix lançado em 2020, mostra como o uso de dados pessoais coletados em sites e aplicativos pelas empresas de tecnologia tem trazido consequências nefastas para a saúde mental das pessoas e para o funcionamento da sociedade.

Com depoimentos fortes de profissionais que trabalham em companhias como Google, Facebook, Twitter e outras, o documentário deixa claro que o atual modelo de negócios dessas empresas, baseado na monetização da sua atenção, precisa urgentemente mudar.

A questão é que The Social Dilemma esmiúça bastante o problema, mas nem tanto a solução.

O que fazer a partir daí? Como fazer com que companhias mudem um modelo de negócio que as transformou nas empresas mais ricas da história? Como o governo pode regular o uso de dados pessoais sem prejudicar os aspectos positivos trazidos pelos avanços da tecnologia?

O documentário aponta caminhos, mas não traz respostas concretas a questões como essas.

Isso não significa que nós, individualmente, estejamos de mãos atadas. Conscientizados dos problemas apresentados pelo filme, podemos combater o uso abusivo da tecnologia com a própria tecnologia.

Neste post, veremos 7 atitudes práticas baseadas em tecnologia que você pode tomar hoje mesmo para reduzir a coleta de seus dados pessoais, diminuir a manipulação a que você é submetido diariamente e substituir maus hábitos de uso de sites e aplicativos.

Tentar controlar o seu uso de redes sociais por conta própria, baseado apenas em força de vontade, é receita certa para o fracasso. É como travar sozinho uma batalha contra um exército de mil homens, todos equipados com o que há de mais moderno.

Esse parece ser um dos pontos falhos na fala de Tristan Harris, um dos principais entrevistados de The Social Dilemma.

Na opinião de Ronaldo Lemos, tentar combater gigantes da tecnologia com base apenas em boas intenções individuais é uma batalha perdida:

O combate de Harris, porém, é quixotesco. Ele avança com suas sugestões simplórias contra forças maiores, mais bem organizadas e enraizadas. A probabilidade de seu sucesso equivale à de as fitas cassetes voltarem a ser a tecnologia dominante na indústria musical.

Ronaldo Lemos. Sereias digitais, vício em tecnologia e dicas para um uso saudável da internet. Folha de S. Paulo, 16/07/2017.

Por isso, a ideia deste post é tentar equilibrar a luta e fazer com que você combata tecnologia com tecnologia.

Caso você não tenha tempo de ler este post por ter que voltar logo para o Instagram, pode pular para o final. Lá estarão listadas todas as ações práticas que você pode tomar agora mesmo para aumentar sua privacidade, reduzir o uso excessivo de redes sociais e diminuir a manipulação à qual está sendo submetido.

Antes de seguirmos, uma observação: as extensões que recomendo neste post estão linkadas para suas versões do navegador Google Chrome. Se você usa outro navegador (afinal, o Google Chrome não é um primor de privacidade), pode buscar alternativas das mesmas extensões para o seu software.

O Dilema das Redes é reduzir os aspectos negativos sem ter que abandonar as redes completamente

Em Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, Jaron Lanier traz uma proposta relativamente radical.

Para o autor, a melhor forma de resolver o problema apresentado em The Social Dilemma é simplesmente você deletar suas contas nas redes sociais.

Para convencer o leitor, Lanier apresenta seus dez argumentos:

  1. Você está perdendo seu livre-arbítrio.
  2. Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos.
  3. As redes sociais estão tornando você um babaca.
  4. As redes sociais minam a verdade.
  5. As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido.
  6. As redes sociais destroem sua capacidade de empatia.
  7. As redes sociais deixam você infeliz.
  8. As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica.
  9. As redes sociais tornam a política impossível.
  10. As redes sociais odeiam sua alma.

No próprio documentário, contudo, Lanier admite que se trata de uma atitude muito radical e que poucas pessoas vão, de fato, deletar suas redes sociais.

E isso tem um motivo, que é pouco explorado tanto no livro quanto no filme. O motivo é que as redes sociais têm seus aspectos positivos.

Você pode manter em contato com pessoas distantes, aprender novas habilidades, encontrar oportunidades profissionais, participar do debate público, expor o seu trabalho e as suas ideias…

Por isso, uma saída menos radical é aquela proposta por Tristan Harris, ex-designer do Google e fundador do Center for Humane Technology. Para Harris, você deve empregar bem o seu tempo para usar a tecnologia de modo mais lento, consciente e saudável.

O dilema das redes, portanto, é justamente saber como aproveitar os aspectos positivos sem ter que vender seus dados para as gigantes de tecnologia.

E isso pode ser feito com ajuda da própria tecnologia.

1. Pague para remover toda a publicidade possível e bloqueie a impossível

The Social Dilemma utiliza um velho bordão do mercado de tecnologia para lembrar que, quando você não paga por um produto, o produto é você.

Por isso, mesmo que pareça economicamente contraditório, o ideal é você pagar pelos serviços que for utilizar.

Por exemplo, por 30 reais você pode pagar uma versão premium do YouTube que elimina todos os anúncios em vídeo da plataforma. Por 5 euros, você pode pagar um serviço de email como o ProtonMail, livre de publicidade, encriptado de ponta a ponta e de código aberto. Por 8 dólares, pode assinar um agregador de informações como o Feedly e nunca mais ter que entrar em um portal de notícias.

Pode parecer que você está gastando um dinheiro desnecessário. A longo prazo, entretanto, é provável que você acabe economizando. A redução da exposição a propagandas microdirecionadas faz com que você acabe comprando menos produtos de que na verdade você não precisava.

Bloquear anúncios é legal? Uma questão não abordada em The Social Dilemma

Infelizmente, não é possível você pagar para usar redes como Facebook, Instagram ou Twitter sem que elas coletem seus dados pessoais e exibam anúncios direcionados.

Nesses casos, a saída é utilizar polêmicos bloqueadores de anúncios como o Adblock, Privacy Badger ou uBlockOrigin.

Além de potencialmente ferir termos de uso, a utilização de bloqueadores de anúncios levanta questões éticas. Afinal, você está usando sem pagar um serviço que se viabiliza financeiramente com publicidade.

Dois pontos pesam a favor do uso de bloqueadores em sites de gigantes de tecnologia.

O primeiro é que o dinheiro que as redes vão perder com os seus bloqueios é absolutamente irrisório diante da receita que elas obtêm.

O segundo é que o uso de bloqueadores pode ser visto como uma reação dos usuários, uma forma de as pessoas expressarem para as redes que o modelo de negócios delas precisa ser revisto.

Você pode configurar o seu bloqueador de anúncios para funcionar em alguns sites e outros não. Assim, você consegue reduzir a exposição em redes sociais ao mesmo tempo em que viabiliza a receita de sites menores de jornalismo profissional, por exemplo.

Falando especificamente de sites de jornalismo, uma solução possível seria você pagar a assinatura de um site de notícias em que confie.

Assim, dá para bloquear a publicidade deste site com menos peso na consciência de estar inviabilizando o jornalismo profissional.

2. Confunda os algoritmos apresentados em The Social Dilemma embaralhando os dados enviados para as redes sociais

The Social Dilemma mostra o nível de precisão com o qual as empresas de tecnologia coletam e mineram os seus dados pessoais.

As empresas sabem quanto tempo você passa em cada aplicativo, quanto tempo fica olhando para cada foto ou manchete, por onde o seu mouse passa, em quais links você clica… a quantidade e qualidade dos dados é absurda.

É com esses dados que as gigantes de tecnologia podem prever como você vai se comportar diante de determinados estímulos. É com esses dados que elas manipulam você a comprar um produto, a continuar navegando, a pensar de determinada maneira.

Uma forma de combater a manipulação desses dados é utilizar aplicações como o Ghostery, que funciona como extensão ou navegador para bloquear a coleta de dados, embaralhar as informações enviadas e oferecer uma série de ferramentas para você ajustar os seus níveis de privacidade.

A coleta de dados muitas vezes baseia-se no uso de pequenos arquivos chamados cookies, que ficam armazenados no seu computador ou celular.

Caso não queira utilizar o Ghostery, você pode configurar o seu navegador para apagar todos os cookies sempre que fechar a janela. Ou criar uma rotina para limpar os cookies a cada período determinado.

Essa opção fica nas configurações de privacidade de cada navegador. Se você não souber como fazer, pode utilizar extensões como Cookie Auto Delete que fazem o trabalho automaticamente.

Lembre-se também de criptografar todas as comunicações do seu navegador com os sites acessados, utilizando extensões como HTTPS Everywhere.

3. Limite o tempo permitido para resolver o dilema das redes sociais

Uma forma relativamente simples de vencer o dilema de aproveitar os aspectos positivos das redes sociais sem as abandonar completamente é limitar o tempo de uso.

Se as empresas usam tecnologia avançada para manter você viciado e cada vez mais tempo engajado nas redes sociais, você também deve usar tecnologia para combater esse vício.

Aplicações nativas dos principais sistemas operacionais de computadores e celulares já permitem que você configure um limite de tempo máximo que pode gastar por dia nas redes sociais.

Caso o seu sistema operacional não tenha essa opção, você pode baixar extensões ou aplicativos que façam o mesmo.

Esses limites de tempo podem ser definidos por cada rede social especificamente ou por um grupo de aplicativos.

Também existem extensões como StayFocusd que limitam quanto tempo você pode passar em cada site quando está navegando.

Caso você queira simplesmente parar de acessar um site específico, então pode bloquear completamente o endereço utilizando opções nativas do sistema operacional ou extensões como Block Site.

Publique nas redes sociais sem entrar nas redes sociais

Muitas pessoas argumentam com razão que não podem simplesmente se ausentar das redes sociais, por questões profissionais.

Muitos profissionais veem a necessidade de expor seus trabalhos na internet; de manter contato com colegas, chefes e possíveis clientes; de participar do debate público.

O problema é que, quando você entra nas redes para publicar qualquer coisa, acaba preso nas armadilhas projetadas para manter você engajado o maior tempo possível. Isso sem falar na sua exposições à publicidade microdirecionada.

Para evitar isso, você pode utilizar aplicativos que te permitem publicar nas redes sociais sem ter que visitar as redes sociais.

Você pode utilizar o nacional mLabs ou os estrangeiros Hootsuite, Buffer e similares para postar nas redes e até responder mensagens e comentários.

Além disso, esses aplicativos permitem que você agende publicações. Assim, você pode determinar uma quantidade específica de tempo na sua semana para programar suas postagens e só voltar a pensar nisso na semana seguinte.

4. Siga o maior conselho de The Social Dilemma e desabilite todas as notificações

Na esteticamente controversa parte dramática de The Social Dilemma, vemos como os algoritmos utilizam as notificações para reengajar pessoas que não estão usando os aplicativos tanto quanto as empresas gostariam.

Ao final do documentário, quando os entrevistados são solicitados a dar sugestões para reduzir o vício em celular e redes sociais, todos são unânimes em dar a mesma dica: desabilite todas as notificações.

O termo “todas” precisa ser ajustado à sua realidade. Se você trabalha com vendas pelo Whatsapp ou recebe ordens do seu chefe pelo Slack, não pode simplesmente desabilitar essas notificações.

Tristan Harris opina que você deve manter apenas as notificações geradas por pessoas reais.

Todas as demais notificações desnecessárias deve ser desabilitadas. Facebook, Instagram, Twitter, grupos de Whatsapp… nada disso pode estar no controle da sua atenção.

O simples fato de uma notificação aparecer na tela ou vibrar no seu bolso já cria um pequeno estado de ansiedade. Ficamos curiosos para saber do que se trata. Mesmo com o autocontrole de não pegar o celular naquele momento, a curiosidade fica na mente.

Além de desabilitar as notificações, também é recomendável você desabilitar os badges. Aqueles selos vermelhos que aparecem junto aos ícones de aplicativos mostrando quantas mensagens você não leu, quantas notificações você não conferiu ou quantos compromissos ainda tem.

Para desabilitar notificações e badges, você pode ir nas configurações de cada aplicativo individualmente ou nas configurações gerais do sistema operacional.

5. Controle o que você vê modificando sites e excluindo recomendações

Ao contrário do que parece, sites na internet não são produtos acabados que precisam ser consumidos exatamente da forma como foram projetados.

A linguagem de marcação utilizada para construir sites não fica do lado do servidor de aplicações, mas sim no lado do cliente. Ou seja, no seu navegador. E o seu navegador pode ser configurado da maneira como você bem desejar.

Se essa introdução ficou um pouco técnica, saiba apenas que você pode modificar como o seu navegador exibe cada site que você visita na internet.

Por exemplo, digamos que você gosta de acessar o Globo.com para acompanhar as notícias. Você entra lá com a melhor das intenções para ser uma pessoa bem informada. Meia hora depois, está lendo não-notícias aleatórias como “13 razões pelas quais o namoro de Xuxa e Pelé não deu certo”.

Manchetes como essas, chamadas de clickbaits (iscas para cliques), são elaboradas para despertar a sua curiosidade. Mesmo que você resista a clicar, estará gastando reservas de força de vontade desnecessariamente 1.

Outro exemplo. Você entra no YouTube para ver um vídeo específico. Ao lado, aparece a recomendação de outro vídeo. E mais outro. E mais outro. Você perde seu tempo vendo vídeos que o algoritmo decidiu por você.

Isso gera o que Ernest Denninger chamou de explosão de ignorância: a abundância de informações típica da internet resulta em menos conhecimento efetivo 2.

Para não ser vítima da explosão de ignorância e evitar cair em armadilhas projetadas para prender sua atenção, você pode e deve configurar os sites que acessa para que se adequem melhor aos seus objetivos.

Você pode, por exemplo, excluir toda a coluna de fofocas e celebridades de um site de notícias. Ou excluir todas as recomendações do YouTube. Ou eliminar completamente o feed de notícias do Facebook.

Você não precisa ter praticamente nenhum conhecimento técnico para fazer isso. Basta instalar extensões como:

  • Kill News Feed: remove o feed de notícias do Facebook
  • Remove Recommendations: remove os vídeos recomendados no YouTube e Facebook
  • Minimal Twitter: remove trending topics e recomendações de quem seguir no Twitter
  • Outline: permite ler uma notícia só com o texto, removendo notícias relacionadas, comentários, anúncios etc.
  • Stylebot: permite que você altere o visual de qualquer site visitado e salve as mudanças que fez. Requer certo conhecimento de linguagem de marcação, mas com esta extensão você pode ocultar elementos indesejados de qualquer site que visitar. Você pode remover seções de fofocas de sites de notícias, ocultar botão de explorar no site do Instagram, excluir seções de comentários de um blog etc.

Modificar sites e redes sociais é uma das melhores formas de vencer o dilema das redes. Com um pouco de esforço, você consegue aproveitar os pontos positivos de sites de notícias e redes sociais sem ser presa fácil para a manipulação.

6. Utilize um agregador com inteligência artificial e nunca mais visite um portal de notícias

Um ponto relativamente pouco abordado em The Social Dilemma é o uso de sites de notícias.

O documentário trata a certamente perniciosa questão das fake news, mas não comenta o fato de que sites de jornalismo profissional também se utilizam de várias técnicas condenáveis para manter os usuários viciados em ler notícias.

Isso inclui a utilização de clickbaits, oferecimento de notícias relacionadas, confusão de publicidade e jornalismo, mistura de notícias sérias com fofocas, fotos sensacionalistas etc.

Artifícios como esses são utilizados para que você passe mais tempo nos sites de notícias, volte a eles várias vezes durante o dia e assim se exponha cada vez mais às publicidades veiculadas.

Uma forma de evitar esses problemas e ainda conseguir se manter bem informado é utilizar agregadores de notícias como Feedly ou Flipboard.

Com um agregador de notícias, você pode cadastrar sites e blogs que gosta de visitar. Cada vez que esses sites e blogs publicarem uma notícia, ela vai diretamente para o seu agregador.

Assim, em um único local, você consegue visualizar as notícias de todas as fontes que você selecionar. Com isso, não é mais necessário você visitar nenhum site de notícia, reduzindo a sua exposição à publicidade.

Mas dá para ir além. Você pode utilizar a inteligência artificial dos melhores agregadores para que eles destaquem quais são as notícias mais importantes para você.

No Feedly, por exemplo, a IA aprende de acordo com o seu consumo de notícias e você também pode treiná-la manualmente sobre quais são os conteúdos que mais importam para você.

É possível ainda silenciar palavras e nunca receber uma notícia que contenha aquela palavra. Ou assinar somente categorias específicas de um site. Por exemplo, você pode receber notícias de economia, mas não de esportes.

Alguns sites fornecem apenas versões resumidas de seus feeds de notícias. A intenção é que você continue tendo que visitar o site para ler a notícia completa. Quando isso acontece, você pode utilizar serviços como Free Full RSS ou Full Text RSS para receber o conteúdo completo, se isso não violar os termos de uso do site.

O Feedly ainda permite que você cadastre canais de YouTube, contas de Twitter e até mesmo newsletters para consultar todas as suas fontes de informação em um só lugar. Também é possível fazer anotações, compartilhar nas redes sociais, grifar trechos das notícias etc.

Considere ler o jornal impresso

Uma opção para se manter informado sem cair tanto nas armadilhas de engajamento é ler a versão impressa de um jornal.

A vantagem aqui é que, por conta da limitação de espaço físico, a versão impressa do jornal tende a ser mais objetiva e deixar de fora muitas das não-notícias.

Você não precisa necessariamente receber o jornal de papel na sua casa. Basta assinar a versão digital e se restringir a ler a versão impressa disponibilizada no site do jornal.

Esta também é uma forma de apoiar o jornalismo profissional e se sentir um pouco mais livre para utilizar bloqueadores de anúncios no site específico.

7. Descubra o que as redes sociais sabem sobre você e limpe seus dados como indicado em The Social Dilemma

Com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) em pleno vigor, você como titular de seus dados pessoais tem o direito de saber quais são as informações que cada site ou rede social tem sobre você. E pode, inclusive, pedir a remoção dessas informações.

Sites e redes sociais de grande porte deixam isso automatizado em links disponíveis para você acessar. Eis alguns exemplos de links:

Todo site e rede social adequado à legislação de proteção de dados deve ter links semelhantes ou fornecer essas informações quando demandados.

Aliás, caso você tenha ficado impressionado com a quantidade de informações que o Google possui sobre a sua vida, pode experimentar usar buscadores alternativos como Duck Duck Go ou Qwant.

Se você quiser reduzir o que as redes sociais sabem sobre você, recomendo que siga os passos fornecidos pelo Data Detox Kit da Tactical Tech, indicado em The Social Dilemma.

Trata-se de um roteiro relativamente simples e já traduzido para o português com os passos que você pode dar para aumentar a sua privacidade.

TL;DR: Atitudes práticas baseadas em tecnologia para resolver o dilema das redes

Caso você tenha rolado a página até aqui sem ter lido nada do que escrevi acima, aqui vão algumas atitudes práticas baseadas em tecnologia que você pode tomar hoje mesmo para reduzir a coleta de seus dados pessoais, diminuir a manipulação a que você é submetido diariamente e substituir maus hábitos de uso de sites e aplicativos:

  • Assinar versões premium livre de anúncios dos sites e redes sociais que oferecem essa opção
  • Bloquear anúncios das demais utilizando aplicações como o Adblock, Privacy Badger ou uBlockOrigin
  • Definir um limite de tempo diário automático para uso de redes sociais, seja pelas configurações do sistema operacional ou utilizando extensões como StayFocusd e aplicações como Forest
  • Bloquear sites que você não quer mais visitar usando o Block Site
  • Publicar nas redes sociais sem ter que entrar nas redes sociais usando mLabs, Hootsuite ou Buffer
  • Utilizar aplicações como o Ghostery para navegar com mais privacidade
  • Limpar seus cookies periodicamente ou automatizando o processo com extensões como Cookie Auto Delete
  • Criptografar todas as comunicações do seu navegador com HTTPS Everywhere
  • Desabilitar todas as notificações, salvo as que forem enviadas por pessoas reais selecionadas por você
  • Desabilitar os badges que ficam sobre os ícones dos aplicativos chamadno sua atenção
  • Usar extensões como StyleBot para modificar os sites que você visita, ocultando partes indesejadas como notícias de fofoca, notícias relacionadas, comentários, recomendações etc.
  • Usar a extensão Kill News Feed para remover o feed de notícias do Facebook
  • Usar a extensão Remove Recommendations para remover os vídeos recomendados no YouTube e Facebook
  • Usar a extensão Minimal Twitter para remover trending topics e recomendações de quem seguir no Twitter
  • Usar a extensão Outline para ler uma notícia só com o texto, removendo notícias relacionadas, comentários, anúncios etc.
  • Assinar um agregador como Feedly ou Flipboard para não ter que acessar mais os portais de notícias, configurando exatamente que tipos de informações você quer receber
  • Descobrir o que redes sociais como Google, YouTube ou Facebook sabem sobre você, limpando seus dados se necessário
  • Usar buscadores privados como DuckDuckGo ou Qwant
  • Assinar serviços de email focados em privacidade, como ProtonMail, Tutanota ou LibremMail
  • Fazer o Data Detox recomendado por The Social Dilemma

Claro que não é necessário que todas as pessoas sigam todas essas recomendações. Cada caso é um caso e você deve analisar o que funciona para você.

Um bom ponto de partida é analisar os pontos que mais te incomodaram ao ver The Social Dilemma e começar tratando deles.

Esteja ciente, também, que algumas extensões podem ferir os termos de uso de um site ou rede social. Você deve analisar os prós e os contras para decidir o que utilizar.

Por fim, prepare-se para uma certa crise de abstinência. Se você passa horas do seu dia visitando sites de notícias e redes sociais, cortar o consumo de uma hora para outra pode dar a sensação de que você está perdendo algo (sensação conhecida como FOMO ou Fear Of Missing Out).

Para superar essa sensação, é possível encontrar atividades não relacionadas ao uso de computador e celular ou instalar aplicativos mais produtivos, como escrevi no post Como organizar a vida digital.

Notas

  1. A força de vontade é um recurso limitado, que se esgota a cada vez que é utilizado. Ver BAUMEISTER, R. F. BRATSLAVSKY, E. MURAVEN, M. TICE, D. M. Ego depletion: is the active self a limited resource? Journal of Personality and Social Psychology, 1998.
  2. DENNINGER, Ernest. Racionalidad tecnológica, responsabilidad ética y derecho postmoderno, in: Doxa, n. 14, 1993, cit., p. 369
Escrito por
Walmar Andrade
Walmar Andrade