Máquinas que conversam entre si. Uma internet que tem mais dispositivos do que pessoas trocando informações entre si. Todos os objetos da sua casa, do seu trabalho ou até mesmo da sua roupa conectados à internet.
Esses são alguns tópicos discutidos no livro A Internet das Coisas, do advogado Eduardo Magrani, um dos maiores especialistas em Direito Digital no Brasil.
A obra não foca apenas em aspectos jurídicos da internet das coisas, mas sim em como a interação entre máquinas já está produzindo alterações no nosso cotidiano. E como essas alterações tendem a crescer exponencialmente nos próximos anos.
O livro divide-se em quatro partes. Além da explicação inicial sobre o que é internet das coisas (mais conhecida como IoT, da sigla em inglês internet of things), as demais partes abordam as três diferentes eras da internet, os benefícios e as desvantagens da IoT.
Eduardo Magrani lembra que não existe um conceito rigoroso sobre o que é internet das coisas.
O autor adota o entendimento de que se trata de um termo que evoca o aumento da comunicação entre máquinas pela internet (M2M, ou machine-to-machine), que já ultrapassou em volume a comunicação entre pessoas pela internet.
Na definição dele, a internet das coisas pode ser entendida “como um ambiente de objetos físicos interconectados com a internet por meio de sensores pequenos e embutidos, criando um ecossistema de computação onipresente (ubíqua), voltado para a facilitação do cotidiano das pessoas, introduzindo soluções funcionais nos processos do dia a dia”.
Muitas vezes essa interação entre computadores, sensores e objetos é associada a automação de residência e escritórios. O alcance da IoT, no entanto, é muito mais amplo, incluindo áreas como saúde, logística, comércio, agricultura e muitas outras.
Não por acaso, empresas como Cisco e Qualcomm preferem utilizar o termo Internet of Everything (IoE). Mais do que semântica, essa diferenciação ajudaria a compreender que não existe uma separação rígida entre a internet que as máquinas usam e aquela que nós utilizamos.
Ao contrário. Como estamos ainda na primeira infância da internet, é provável que a evolução da IoT nos leve a uma web simbiótica, capaz de integrar gradativamente as tecnologias às pessoas.
Em relação aos pontos negativos, a questão da privacidade surge como maior preocupação. Ao mesmo tempo em que dispositivos hiperconectados são extremamente úteis e facilitam nosso cotidiano, eles também funcionam como espiões a enviar dados sobre tudo o que fazemos. Isso pode fazer com que os detentores dos dados saibam muito mais sobre as nossas vidas do que gostaríamos de expor.
E não se trata apenas de big data. A ilusão da anonimização é um dos problemas tratados no livro. Saber como serão tratados os dados pessoais coletados pela IoT é um dos grandes pontos de discussão do livro.
Na ausência de portabilidade e proteção usuário-cêntrica, os indivíduos nunca serão empoderados; ao contrário, serão condenados a permanecer como commodity a ser explorada com o fim de gerar riqueza — ou seja, dados — ad aeternu
Eduardo Magrani – A Internet das Coisas, 2018
Lançado em 2018, o livro também se propõe a discutir um plano nacional para a IoT no Brasil.
Magrani lista cinco dimensões estruturais para serem estudadas quando se discute a IoT no Brasil:
- Complexidade do problema
- Complexidade do fenômeno econômico
- Produtos intensivos em serviços
- Ecossistemas empresariais e organizacionais
- Governança necessária para o desenvolvimento econômico, social e sustentado da internet das coisas no Brasil
As cinco dimensões são abordadas no livro, que reforça a necessidade de se desenvolver competências humanas e de relação com o mercado demandadas por um mundo onde pessoas e máquinas estarão permanentemente conectados.