Como passei no concurso do Senado Federal (e como você também pode passar)

Concurso do Senado

Há cerca de seis meses, fui aprovado no concurso do Senado Federal, depois de alguns meses estudando para aquele que foi considerado um dos maiores concursos da história.

A vaga para a qual concorri neste concurso público tinha nada menos que 1.200 candidatos por vaga.

Boa parte dessa alta concorrência deve-se ao fato de o Senado ser conhecido como uma excelente casa para se trabalhar, tanto pelos bons salários quanto por ser o local em que as principais leis do país são feitas e aprovadas.

Soube que a ideia do Senado é realizar concurso público com uma maior constância, para repor o quadro de servidores perto de se aposentar.

Para se ter uma ideia, depois de passar muitos anos sem realizar concurso público, o Senado fez concurso em 2008 e 2012. Seguindo essa lógica, teremos novo concurso público do Senado a cada quatro anos. Ou seja, já é tempo de começar a estudar.

E para ajudar aqueles que estão interessados em passar no concurso do Seando, resolvi escrever neste post um adendo ao meu post anterior.

Portanto, antes de prosseguir, assegure-se de ler Como passei em um concurso público, de primeira. Não voltarei aos pontos básicos, apenas falei dos aprimoramentos que fiz para este segundo desafio.

1. Antecipação ao edital do concurso do Senado

Diferente do primeiro concurso público, para o qual estudei apenas quatro meses, pude me preparar com boa antecipação para o concurso do Senado Federal.

Assim que cheguei a Brasília, em junho de 2011, fiquei sabendo do concurso do Senado e comecei a me preparar para o mesmo. No total, foram 10 meses de estudos praticamente ininterruptos, porém divididos em duas fases:

  1. Antes do edital do concurso do Senado: Estudava cerca de duas a três horas por noite, após o trabalho, e a mesma quantidade no sábado e no domingo. Usava o sistema de rotação de matérias e me baseava no edital do concurso do Senado de 2008.
  2. Após o edital do concurso do Senado: Estudava de oito a dez horas por dia, mesmo trabalhando por 8 horas. Passei a fazer cursinho e intensifiquei o uso dos mapas mentais.

Adotando essa estratégia, consegui cobrir todo o edital do concurso do Senado de 2008 antes mesmo de o edital ser publicado. E tive a grande surpresa de o edital publicado em 23 de dezembro de 2011 ser exatamente igual ao de 2008, que já era uma republicação do edital de 2001.

Edital publicado com erro

Para se ter ideia de como era exatamente igual, o edital de 2012 trazia no assunto “atualidades” temas ocorridos há mais de dez anos (!), tais como:

  • A desvalorização de janeiro de 1999 e seus impactos sobre a produção, a renda e o balanço de pagamentos.
  • A crise de 1997 dos “tigres asiáticos” e demais países do leste asiático e seus reflexos na economia brasileira.
  • As crises da Rússia e da Argentina e seus reflexos na economia brasileira.

Esse foi apenas o primeiro dos problemas que a banca do concurso do Senado, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), traria para os candidatos. Mais sobre isso adiante.

2. Repetição do que deu certo no concurso público anterior

Como em time que está ganhando não se mexe, repeti exatamente as mesmas estratégias que deram certo no primeiro concurso público, a saber:

  • Rotação de matérias
  • Toneladas de exercícios no Questões de Concursos (total de 9.820 questões respondidas só no site)
  • Escutar leis e a Constituição em áudio ao dirigir ou executar outras atividades (lavar louça, fazer supermercado, lanchar etc.)
  • Log do tempo de estudo, desta vez usando o aplicativo Eternity Time Log (exemplo de relatório do aplicativo abaixo, compreendendo o período de dezembro a maio, quando o edital já estava publicado)
Time log

3. Estudar para concurso público enquanto trabalha

No concurso público anterior, eu tinha um trabalho que me permitia organizar meu próprio horário. Para o concurso público do Senado Federal, eu já era servidor público em Brasília, com carga horária de 8 horas e um intervalo de almoço de no mínimo uma hora.

Como havia passado no concurso público anterior há menos de um ano, eu não tinha direito a férias. Dessa forma, tive que arrumar um jeito de gerenciar o tempo para estudar para o concurso público enquanto trabalhava 8 horas por dia.

Eis as atitudes que tomei após a publicação do edital do concurso público:

  • Passei a dormir apenas 6 horas por noite, das 0h às 6h
  • Passei a estudar antes de ir ao trabalho, das 6h às 7h30
  • Troquei o almoço por um shake substituto de refeição para ganhar mais uma hora diária de estudo
  • Larguei todas as atividades paralelas (academia, blogs, seriados etc.)
  • Passei três meses sem ver família e noiva, pois não ia mais ao Recife (minha terra natal)

Uma vantagem que tive é que da minha casa para a agência onde trabalhava, em Brasília, o percurso durava apenas 8 minutos, sempre sem trânsito. Para quem não tem essa facilidade, não recomendo voltar para casa na hora do almoço, pois o tempo perdido no trânsito pode ser maior do que o tempo ganho de estudo para o concurso público.

4. Intensificação do uso dos mapas mentais para concurso público

Mapa mental para concurso do Senado Federal

Havia utilizado os mapas mentais no primeiro concurso público. Dessa vez, no entanto, foquei grande parte do meu estudo na produção e revisão dos mapas mentais. Foram mais de 100 mapas mentais desenhados para o concurso público do Senado.

Fiz isso porque grande parte da matéria a ser estudada tratava de processo legislativo e fluxos de regras regimentais. Esse é o tipo de estudo que fica muito melhor em forma de mapa mental (sobretudo fluxogramas) do que em anotações em caderno.

Fotografei todos os mapas mentais com o smartphone e sempre que podia (filas de supermercado, banheiro, espera para reuniões etc.) ia revisando os mapas, um a um.

5. Cursinho para concurso público

No primeiro concurso público, morava na Espanha e não tiver oportunidade de fazer cursinho. Mesmo que morasse no Recife, teria dúvidas se faria cursinho pelo fato de considerar uma grande perda de tempo com deslocamento, intervalo, espera pelo professor. Além disso, nem sempre os professores são de qualidade.

Dessa vez, no entanto, morava em Brasília e havia um consultor do Senado, profundo conhecedor do Regimento Interno da casa, oferecendo cursinho. Fui a uma aula gratuita inaugural e, para minha extrema sorte, ganhei uma bolsa integral sorteada pelo IGEPP.

Não me arrependi de ter ido às aulas, tanto que acertei 100% das questões relacionadas a Regimento Interno e processo legislativo no concurso público do Senado. Mas continuo com ressalvas quanto aos chamados concurseiros que passam boa parte do dia assistindo a aulas em vez de estar estudando sozinho.

6. O que deu certo e o que não deu

Concurso do Senado

Como se pode imaginar, o ritmo de estudo após a publicação do edital do concurso público foi extremamente intenso. Na reta final, o desempenho começou a cair, até pelo fato de o ganho marginal com as revisões depois de tanto tempo ser muito pequeno.

Outro ponto importante é que eu fiz duas provas de concurso público no mesmo dia, uma pela manhã e outra pela tarde. Passei nas duas vagas, mas só a da manhã dentro do número de vagas (fui o 17º entre cerca de 30 mil candidatos). O meu desempenho à tarde, que era o cargo para o qual mais me interessava, caiu bastante. Tanto que só consegui concluir a redação nos últimos minutos da prova da tarde.

Um terceiro erro foi dar excesso de importância às matérias específicas e um pouco menos a português. Considero português a minha melhor matéria em concurso público, até pela minha formação como jornalista. Porém, a banca do concurso público do Senado (FGV) faz uma prova sui generis de português, cobrando conhecimentos gramaticais raros e até mesmo controversos. O que me faz ir ao último ponto deste post.

7. Problemas com a banca do concurso do Senado

A FGV fez lambanças do início ao fim do concurso público do Senado Federal.

Para se ter uma ideia, a dispensa de licitação da banca foi publicada no Diário Oficial e na mesma edição já saiu o edital do concurso público. Ou seja, em teoria, a banca teve apenas um dia para preparar o edital. Talvez por isso tenha republicado o edital de 2008, que por sua vez já era uma republicação do edital de 2001. Não se deram ao trabalho nem de atualizar assuntos de atualidades.

Os problemas se sucederam a ponto de faltar cadernos de provas no dia do concurso público, o que causou anulação das provas para os cargos de analista legislativo nas áreas de informática legislativa-análise de sistemas, análise de suporte de sistemas e saúde e assistência social-enfermagem. Os candidatos que concorriam para esses cargos e tinham provas na sala só souberam da anulação depois de passar a manhã (ou tarde) fazendo as provas.

Depois, a banca não liberou o PDF das provas do concurso público, impedindo quem não tinha os cadernos de entrar com recursos fundamentados contra os diversos problemas nas questões. Para piorar, houve anulação de pouquíssimas questões polêmicas, com respostas muitas vezes no mínimo estranhas.

Exemplos de respostas da FGV no concurso do Senado

  • A Questão deve ser anulada, e o seu gabarito mantido: “Após análise da argumentação do candidato, a Banca julga que procede. Na questão 41, faltou informar os nós. A questão deve ser anulada. Do exposto, a Banca entende que a questão deve ser mantida, bem como o gabarito.”
  • Questão que se referia a determinado parágrafo, porém o texto não estava dividido em parágrafos: “A diagramação da prova não é competência do professor idealizador das questões. Portanto, o recurso deve ter outro encaminhamento.”
  • Análise de um trecho sublinhado em uma questão que não tinha nada sublinhado: “A indicação de termo sublinhado não impede a solução da questão, uma vez que todo o período foi modificado.”
  • Questão que cobrava o nome de uma obscura banda canadense na prova de inglês: “De fato, “Default” é um nome de uma banda de Rock, bastante famosa no Canadá, na verdade: http://en.wikipedia.org/wiki/Default_(band). Dificilmente um candidato saberá disso. Mas trata-se de um concurso, algumas perguntas serão difíceis mesmo.”

Sou contra aqueles que ficam chorando contra as bancas de concurso público. De qualquer forma, fica como lição estudar, além do assunto do concurso público, o histórico da própria banca e o estilo na hora de formular questões, responder a recursos, corrigir redação etc.

Espero que este post ajude você a passar no próximo concurso do Senado Federal ou em qualquer outro certame concorrido.

Escrito por
Walmar Andrade
Walmar Andrade