Diario de Pernambuco: Jovens preferem viver sem patrão

Matéria originalmente publicada no Diario de Pernambuco em 27 de setembro de 2009.

Abaixo o chefe. A juventude brasileira quer ser dona do próprio nariz. Antes mesmo de sair da universidade a turma com idade entre 18 e 24 anos trilha o caminho do empreendedorismo. Pesquisa internacional da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) coloca o Brasil na terceira posição, com taxa de 25% de participação no ranking mundial dos países com jovens empreendedores. Só fica atrás do Irã (29%) e da Jamaica (28%). São 3,6 milhões de jovens de todas as regiões que trabalham por conta própria. Os negócios mais promissores estão nos serviços especializados de informática, contabilidade, marketing e apoio jurídico. São nichos de mercado que exigem um empreendedor mais organizado e escolarizado, para atender empresas com certo grau de sofisticação. Maduros, eles não se lançam em aventuras. Em geral, se preparam para disputar uma fatia do mercado.

Coordenada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) em parceria com o Sebrae, a pesquisa Empreendedorismo no Brasil 2008 aponta avanços no nível de empreendedorismo. Antes o jovem empreendia por necessidade. Parava de estudar para abrir um negócio e complementar a renda familiar. Agora o jovem brasileiro decide ser empreendedor por oportunidade. “Ele vislumbra uma opção de negócios e vê que pode trabalhar e crescer na sua própria carreira”, destaca Paulo Alberto Bastos Júnior, um dos coordenadores da equipe da GEM Brasil.

Pela primeira vez a pesquisa identificou o aumento da figura do empreendedor entre os jovens de 18 a 24 anos, com a taxa mais alta de 12,5% entre as faixas analisadas. Uma prova do rejuvenescimento da atividade empreendedora no país. São jovens como Juliane Miranda e Amanda Braga, designers de acessórios de moda, que antes de terminar o curso universitário abriram o próprio negócio. Ou os sócios Rodrigo Muniz e Walmar Andrade, especialistas em tecnologia da informação, que há dois anos se instalaram no Porto Digital, e estão entre as melhores empresas do mercado que comercializam sistemas para internet com clientes de outros países.

“É uma tendência mundial. As pessoas vão partir para abrir os seus próprios negócios e abandonar a idéia de serem empregadas”, aposta o superintendente regional do Sebrae, Nilo Simões. O executivo aponta a melhoria do nível de escolaridade, a busca por cursos de pequenos negócios e de gestão, além da introdução de disciplinas nos currículos das universidades, como motivadores da nova onda que embala a juventude. O Sebrae atua exatamente no apoio ao desenvolvimento do empreendedorismo, com cursos, palestras e seminários, orientando as pessoas de todas as idades que têm vocação para empreender.

Vocação para ter o próprio negócio é o que não falta no Brasil. Hoje são 14,6 milhões de empreendedores, o que corresponde a 12,6% da população adulta. A tendência nos próximos cinco anos é o crescimento do jovem empreendedor. “A forte exposição na mídia, as novas grades curriculares de curso superior que transferem conteúdo de negócios é uma forma de consolidaro empreendedorismo jovem”, acredita Paulo Bastos, da GEM Brasil.

Sucesso no mercado

Desde pequeno na cidade de Limoeiro, agreste de Pernambuco, Rodrigo Muniz, 25 anos, sonhava em ter o próprio negócio. Veio estudar na capital, entrou na faculdade para cursar sistemas para internet, e logo no primeiro período propôs sociedade a um amigo, Walmar Andrade, 26 anos. Os dois decidiram montar um plano de negócios. O primeiro passo foi o curso de empreendedor para saber o caminho das pedras, estudar o mercado e a concorrência. Há dois anos abriram uma empresa da área de informática, especializada na criação de sites e sistemas interativos.

Hospedada no Porto Digital, no bairro do Recife, a Wenetus é sucesso no mercado. “Existem as dificuldades de saber crescer e ter um parâmetro para contratar pessoas. Já atendemos clientes do México, da Irlanda e Portugal. Nossa meta é crescer e nos tornar a maior empresa do mercado”, planeja Rodrigo. Assim como Juliane e Amanda, os sócios não revelam os números da empresa, mas confessam que os resultados financeiros são surpreendentes. “Hoje somos independentesfinanceiramente. Tenho planos de, no máximo em dois anos, comprar a minha casa própria. As pessoas têm que acreditar no que querem e correr atrás”, reforça Rodrigo.

Escrito por
Walmar Andrade
Walmar Andrade