Sapiens - Uma breve história da humanidade

Sapiens – Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari

Em um relativamente curto espaço de 300 mil anos, o Homo Sapiens deixou de ser apenas uma das muitas espécies humanas que habitavam a Terra para se tornar a espécie mais dominante que já passou por este planeta.

A história de como essa transição aconteceu e como ela nos levou ao mundo completamente interconectado que temos hoje é o tema de Sapiens – Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari.

Sapiens é um daqueles livros que vão além das listas de mais vendidos. Publicado pela primeira vez em 2011 em Israel com o título Uma Breve História do Gênero Humano, Sapiens começou a se popularizar em 2014 e se tornou um dos livros mais comentados do mundo.

Com a popularização do livro, Yuval Noah Harari deixou de ser um historiador de menos de 40 anos na Universidade Hebraica de Jerusalém e se tornou um dos pensadores mais influentes do mundo.

Apesar de todas as críticas ao seu trabalho, Harari ganhou o mundo aconselhando governantes, ministrando inúmeras palestras e escrevendo novos livros que também se tornaram sucessos de venda.

A Revolução Cognitiva fez do Homo Sapiens a espécie dominante

A primeira parte de Sapiens dedica-se a explicar a Revolução Cognitiva, ocorrida há cerca de 70 mil anos. Foi essa revolução que fez, em um curtíssimo espaço de tempo em termos evolutivos, com que o Homo Sapiens se tornasse a espécie dominante no planeta.

Os humanos surgiram há cerca de 2,5 milhões de anos na África Oriental como uma evolução do Australopithecus (macaco do sul). Entre as primeiras espécies humanas, estavam o Homo Rudolfensis e o Homo Erectus. Outras espécies, como o Homo Neanderthalensis, surgiram depois que os humanos emigraram saíram da África Oriental.

O Homo Sapiens só surgiu entre 300 e 200 mil anos atrás e no começo não tinha grandes diferenças em relação às demais espécies humanas. Duas teorias tentam explicar as razões de esta nova espécie ter se sobressaído em relação às demais espécies humanas.

A Teoria do Cruzamento supõe que o Homo Sapiens cruzou com outras espécies humanas, notadamente com o Homo Neanderthalensis, resultando em humanos que continham DNA das duas espécies.

A Teoria da Substituição supõe que o Homo Sapiens, por ter habilidades um pouco superiores, acabou empurrando as demais espécies humanas para a extinção, seja matando outros humanos ou simplesmente retirando seus alimentos.

Harari escreve que possivelmente as duas teorias estão parcialmente corretas. O Homo Sapiens pode ao mesmo tempo ter aniquilado as demais espécies humanas enquanto cruzava com alguns de seus representantes.

A habilidade de pensar, de se comunicar e de criar histórias fez o Homo Sapiens conquistar o mundo

Um dos motivos pelos quais o Homo Sapiens foi capaz de dominar as demais espécies humanas é a estrutura de seus cérebros. Há cerca de 70 mil anos, tais cérebros deram um salto evolucionário conhecido como Revolução Cognitiva.

Com esse desenvolvimento, foi possível desenvolver ferramentas, criar comunidades e até estabelecer redes primitivas de trocas. Assim, o Homo Sapiens conseguia encontrar alimentos e outros recursos com mais facilidade que as outras espécies.

A Revolução Cognitiva também permitiu que o Homo Sapiens se espalhasse por todo o planeta.

Harari defende que a supremacia da espécie ocorreu muito por conta do desenvolvimento da linguagem, que nos permitiu criar e acreditar em histórias.

Essas histórias foram essenciais para a formação de comunidades, para a transmissão do conhecimento e para o estabelecimento de objetivos que só podem ser atingidos de forma coletiva.

Outros animais possuem formas de linguagem e trabalham em grupo, mas nenhum deles têm a capacidade de criar e acreditar em histórias. O Homo Sapiens é o único que consegue cooperar com flexibilidade e em larga escala e isso se deve à nossa capacidade de criar e acreditar em histórias, sobretudo em ideias abstratas como deuses, direitos humanos e empresas.

Esses mitos, como Harari os classifica, são a pedra angular da cultura humana. Foram esses mitos que nos permitiram passar de pequenas comunidades de cerca de 150 pessoas para vilas, depois para cidades, depois para estados, depois para países, até chegarmos a um mundo completamente interconectado.

A Revolução Agrícola e a maior fraude da história

A Revolução Agrícola é comumente tratada como algo positivo para a humanidade. Há cerca de 10 mil anos, nossos antepassados começaram a parar de caçar e coletar seus alimentos e passaram a cultivar esses alimentos.

O início da agricultura permitiu a formação de comunidades maiores, com menor necessidade de deslocamentos constantes. Com alimento relativamente garantido, foi possível fazer planejamentos de prazo maior, dedicar-se a outras atividades e aprimorar ainda mais as técnicas agrícolas.

Olhando por esse ângulo, a Revolução Agrícola parece de fato ter sido positiva para a humanidade. Harari, todavia, argumenta o contrário.

O autor descreve que a qualidade de vida dos caçadores-coletores era em regra muito melhor do que a dos agricultores. Os caçadores-coletores eram mais saudáveis, precisavam dedicar menos tempo às tarefas diárias e ainda tinham alimentos de maior qualidade.

A mudança só ocorreu por ter sido lenta e gradual. Cada geração ia sofrendo uma pequena perda na qualidade de vida. Quando a humanidade se deu conta da troca ruim que fez (se é que se deu conta), já era tarde demais.

Além disso, a agricultura é mais eficiente do que a caça e a coleta. Com um pedaço relativamente pequeno de terra, era possível alimentar cada vez mais pessoas. E com isso a população de Homo Sapiens no planeta explodiu.

A numerosa população levou, então, à criação de novas histórias que permitissem a colaboração flexível em larga escala. Entre essas histórias estavam a escrita e o dinheiro.

Dinheiro, escrita, religião e outras histórias que ajudaram a unificar a humanidade

A eficiência da agricultura permitiu aos nossos antepassados a criação de excedentes de comidas. Esses excedentes podiam ser trocados por outros bens, como vestimentas e ferramentas.

Na explicação tradicional para o surgimento do dinheiro, essas trocas gradualmente passaram a ser feitas não pelo bem final desejado, mas sim por um bem que servisse futuramente como meio de troca. Esse bem meio podia ser sal, ouro, prata ou qualquer outro bem que fosse aceito na comunidade como meio de troca.

Essas trocas estão na origem da invenção do dinheiro e da escrita, por volta de 3 mil anos antes de Cristo. Você pode saber mais sobre as origens do dinheiro (e outra explicação menos tradicional) no primeiro capítulo de Criptomoeda Legal.

O dinheiro e a escrita são classificados por Harari também como histórias. O meio de troca – seja um punhado de sal ou uma cédula de papel – não tem valor intrínseco. Ele só tem valor porque toda a comunidade fez um pacto social de acreditar na história de que aquilo tem valor.

As religiões e os sistemas de governo também seriam assim. Para regular o comportamento das pessoas e unificar a comunidade como grupo, começaram-se a inventar histórias que explicassem como as coisas funcionam. Isso deu origem a reis, deuses e outros tipos de mitos.

Harari costuma brincar que as pessoas consideram que todas as religiões são fake news, exceto uma – a religião em que aquela pessoa acredita.

Governos e religiões foram fundamentais para a organização social de comunidades cada vez maiores. Governantes e religiosos estão na origem do Direito e do cumprimento das leis, seja pela força ou pela promessa de ira divina. Ou, mais comumente, de ambos.

O papel da religião e dos reis como explicadores de como as coisas funcionam só começou a decair quando o conhecimento da humanidade foi avançando, o que resultou na Revolução Científica.

A Revolução Científica e o fim do Homo Sapiens

Por volta dos séculos XVI e XVII, sobretudo na Europa, o Homo Sapiens começou a crer mais em suas próprias capacidades e passou a depender cada vez menos de explicações divinas para entender o funcionamento do mundo.

A chamada Revolução Científica provocou grandes saltos no conhecimento em áreas como física, astronomia e medicina. Os efeitos foram enormes na saúde, na educação e na economia.

A exploração científica foi incentivada por governantes. O dinheiro estatal serviu inclusive para que exploradores conquistassem territórios fora da Europa, como a América e a Oceania. No século XIX, o Império Britânico sozinho ocupava mais de metade do planeta.

A cultura europeia espalhou-se forçadamente por todos os continentes, às custas não apenas das culturas locais, mas da própria vida das pessoas que ali antes residiam.

Segundo Harari, o capitalismo foi um desses aspectos sócio-culturais empurrados pela Europa para o restante do mundo. Atualmente, em qualquer parte do mundo, as pessoas acreditam no mito do dinheiro e organizam suas vidas em torno de como obter dinheiro.

A globalização resultante de todo esse longo processo transformou o mundo em um lugar mais pacífico. Pode não parecer, mas o planeta nunca esteve com índices tão baixos de violência quanto agora (para entender mais sobre isso, veja o livro de Steven Pinker chamado O Novo Iluminismo).

O principal motivo é que as nações dependem umas das outras para prosperar. Com a divisão internacional do trabalho, uma instabilidade ou uma guerra localizada em uma região pode afetar países em todo o planeta. Com isso, a guerra deixa de ser economicamente interessante.

Isso não significa que a violência simplesmente acabou. Atualmente, o Homo Sapiens enfrenta três grandes problemas que podem levar à sua própria extinção: a guerra nuclear, as mudanças climáticas e a disrupção tecnológica.

Reflexões sobre o futuro do Homo Sapiens

Depois de mostrar o grande processo positivo pelo qual a humanidade passou, Sapiens – Uma breve história da humanidade encerra-se mostrando algumas preocupações para o futuro.

A primeira é que, mesmo com todo o progresso que obtivemos, individualmente as pessoas não estão mais felizes do que eram em tempos passados.

Do ponto de vista coletivo, um aumento no nível de felicidade depende de qual grupo social está sendo observado. Homens brancos e ricos da atualidade têm uma percepção de felicidade maior do que seus antepassados do mesmo grupos, mas o mesmo não acontece com outros grupos sociais menos privilegiados.

Além da questão da felicidade, Yuval Noah Harari faz algumas reflexões sobre o futuro. O autor lembra que estamos fazendo grandes avanços em mesclar biologia e tecnologia, aumentando a expectativa de vida e retardando o processo de envelhecimento.

No longo prazo, isso pode levar a humanos que têm praticamente uma vida eterna. Os aprimoramentos genéticos e a mistura do corpo humano com partes tecnológicas podem mudar o corpo do Homo Sapiens tão drasticamente que leve à criação de uma nova espécie mais evoluída.

O livro conclui que o aparecimento dessa espécie de super humanos, parte homem e parte máquina, é apenas questão de tempo.

Escrito por
Walmar Andrade
Walmar Andrade